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Wednesday, November 28, 2007

 

A paz esquecida (parte XI)

Em Paris Jacob foi várias vezes vítima de racismo mas adaptou-se bem devido à sua inteligência e facilidade de relacionamento, até arranjou uma namorada francesa e tirou um curso de direito com a melhor nota do seu ano. Infelizmente a namorada enganou-o e teve muita dificuldade em conseguir arranjar emprego como advogado devido à sua cor. Resolveu formar um movimento para acabar com o racismo e estabelecer direitos iguais para todos. O movimento teve algum sucesso e melhorou a situação das minorias em França mas quando começou a ascender muitos dos colegas de Jacob foram assassinados por razões políticas. Um dia Pierre voltou a ouvir pela terceira vez o choro de Jacob e previu que a sua vida iria mudar outra vez como acontecia sempre que ouvia aquele choro. Perguntou a Jacob o que se passava, ao que este respondeu.
-Não consigo continuar a viver assim, quero voltar para o deserto, quero voltar a ter a vida que tinha com Tera. O ser humano esqueceu-se da terra e de dar valor aos seus frutos, já não dá valor à sua própria vida, à dos outros, aos outros seres vivos, não se dá valor à amizade e ao amor e inventam-se conflitos que só geram infelicidade, no deserto há uma paz de que o ser humano já se esqueceu.
-Tens a certeza?
-Tenho.
-Se tu fores eu vou contigo.
-Vamos.
E foram para o lugar onde Jacob foi feliz com Tera, onde uma paz esquecida pelo ser humano permanece e ali viveram. As povoações daquela zona falavam de dois espíritos do deserto, dois homens, um branco barbudo e um negro alto que viviam como tinham vindo ao mundo e alimentavam-se do que a natureza lhes desse. Estes espíritos, segundo as pessoas que os viam eram espíritos bons e abençoavam aquela região.

FIM

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Tuesday, November 27, 2007

 

A paz esquecida (parte X)

Um dia quando estava a chegar a casa do trabalho ouviu um som que lhe era familiar, à medida que se ia aproximando pôde reparar que era um choro, mas não era um choro qualquer, era o mesmo que num fatídico dia no deserto ouviu e que o levara a conhecer um menino impressionante, que estava nesse preciso momento sentado nas escadas da sua casa a chorar.
-Então Jacob que se passa? – Perguntou Pierre preocupado.
-Mataram o Tera – disse o menino inundado em lágrimas.
Pierre ficou sem palavras e abraçou Jacob durante vários minutos e também ele chorou enraivecido com o ser humano que tinha feito a mesma atrocidade que ele uma vez cometera, que nem se lembrava por sentir que isso pertencia a uma vida passada. Convidou o menino a viver com ele e Jacob aceitou imediatamente. Nos dias seguintes viveram como pai e filho uma amizade rara. As pessoas que viviam naquela zona olhavam para aquela relação com o olhar da desaprovação, tanto os indígenas como os franceses. Decidiram então ir viver para Paris onde Pierre pôs Jacob a estudar, o que o menino adorou pois tinha uma sede imensa de conhecimento.

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É aqui que começa o caminho para a paz


Associações como estas são de louvar e esta pode ser das armas mais poderosas para acabar o conflito israelo-palestiniano. O projecto Hand in hand é um sistema educacional de coexistência multicultural que actualmente tem quatro estabelecimentos de ensino no médio oriente onde jovens judeus, cristãos e muçulmanos coexistem em harmonia. A nível de relações humanas estas crianças são menos infantis do que muitos dos adultos que tragicamente foram parar ao poder dos seus países, estes têm muito a aprender com este exemplo.
Ps: Carregem no título e leiam o artigo

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"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce"

Fernando Pessoa

Monday, November 26, 2007

 

A paz esquecida (parte IX)

No dia seguinte Pierre foi trabalhar e quando estava a voltar comprou roupa para o novo membro da sua casa. Chegou e ofereceu a Jacob dizendo-lhe que se ele quisesse poderia ficar a viver com ele e que estava disposto a dar-lhe tudo o que precisasse para ser feliz.
-Assim que o Tera estiver bom volto para o deserto que é lá que estamos bem, ao contrário dos leões que me receberam como um filho, as pessoas não aceitam os leões e nunca seria possível viver com ele em sociedade.
-É normal que as pessoas tenham medo do Tera, ele pode ser perigoso.
- As pessoas também tinham medo de mim e do Tera e nós nunca faríamos mal a ninguém, quando o viste ele pareceu-te perigoso ou ameaçador? Ele nunca te faria mal, tu pelo contrário quase que o matavas, afinal quem é que é perigoso?
Pierre ficou espantado e sentiu um enorme aperto no coração.
-Como é que sabes isso?
-O Tera contou-me mas está descansado que ele não ficou chateado contigo nem te quer matar ao contrário de ti que o tentaste matar sem nenhuma razão.
-Tens toda a razão – respondeu Pierre soltando uma lágrima
- Não chores senhor Pierre, eu sei que tu te arrependeste e li nos teus olhos que és um homem bom - disse Jacob a Pierre que se encolhia envergonhado e cada vez mais emocionado.
Pierre apegou-se a Jacob como um pai a um filho e descobriu no miúdo uma sabedoria imensa, não que tivesse muitos conhecimentos mas sabia o que realmente interessava e a sua visão sobre a vida e as suas atitudes eram espantosamente sensatas, aprendeu muito com ele. Quando Tera ficou bom e Jacob lhe disse que iam seguir para o deserto em breve, Pierre pediu-lhe que ficassem que ele lhes daria tudo o que quisessem. Jacob respondeu que no deserto tinham tudo o que queriam. Agradeceu muito a Pierre, abraçaram-se, choraram e lá foi cada um à sua vida. O francês passou os dias posteriores à partida do menino profundamente triste

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Sunday, November 25, 2007

 

A paz esquecida (parte VIII)

Passadas umas horas começou a ouvir um burburinho que vinha lá de fora. Levantou-se e olhou pela janela onde viu à frente do portão da sua propriedade umas centenas de indígenas revoltados a gritar, a rezar e a fazerem rituais compostos por danças e batucadas. Ganhou coragem e foi até lá.

Quando lá chegou identificou um dos seus criados a quem perguntou o que se passava ao que este respondeu:
-Senhor, as pessoas querem que mate ou mande embora o menino mau do deserto e o seu leão.
-Mas o menino não é mau, explique-lhes isso.
O empregado virou-se para a multidão e começou a falar-lhes em voz alta, estes calaram-se e ouviram-no com atenção e depois responderam com gritos e movimentos agressivos, gerando uma discussão acesa que assustou Pierre que não estava habituado a lidar com aquelas pessoas. Passado uns minutos fez-se silencio e as pessoas começaram a desviar-se para deixar passar um senhor de idade muito ornamentado e de túnicas mais coloridas que a maioria dos habitantes. Este senhor chegou e gritou uma série de palavras na língua dos presentes e começou a conversar com o empregado de Pierre. Passado um bocado o empregado virou-se para Pierre e disse que o Ancião tinha que conhecer a criança de forma a compreender se era um espírito mau ou não. Pierre concordou e convidou os dois homens a entrar na sua casa o que levou a multidão a iniciar um cântico que a ele lhe pareceu bonito. Entraram e Pierre pediu-lhes que esperassem. Foi até à divisão onde estava Jacob com Tera e mais uma vez lhe deu a sensação que estavam a conversar.
- Está lá fora o chefe da aldeia que quer falar contigo, não precisas de ir, só vais se quiseres – disse Pierre a Jacob.
-Eu vou, não há problema.
Quando chegaram ao pé dos outros dois indígenas, Jacob baixou a cabeça e começou a falar, o Ancião calou-o com a sua voz grave e sonante e começou a falar alto com o rapazinho que o ouvia com atenção, iniciaram uma conversa que foi primeiro uma discussão exaltada da parte do ancião e calma da parte de Jacob, passado um pouco já parecia estarem-se a entender. Depois de uma tranquila conversa abraçaram-se e olharam-se nos olhos intensamente em silêncio durante cerca de um minuto, voltaram-se a abraçar e despediram-se emocionalmente. Pierre foi levar o empregado e o ancião à porta e já cá fora em cima do patamar da entrada o Ancião começou a falar em voz alta para a multidão que depois de o ouvir entusiasmada manifestou-se alegremente. Pierre baralhado com isto tudo foi falar com Jacob.
-O que é que se passou ali?
-Estive a falar com o ancião da aldeia e contei-lhe a minha história, ao princípio ele teve dificuldade em acreditar mas depois disse que não sentia nenhum espírito mau presente, antes pelo contrário, sentia a presença de um espírito benigno e disse que eu tinha sido enviado pelos espíritos dos leões para abençoar esta região, abraçou-me e disse que me queria voltar a ver.

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Saturday, November 24, 2007

 

A paz esquecida (parte VII)

Pierre não podia acreditar no que ouvia, um miúdo que tinha sido criado por leões, fazia-lhe lembrar uma história que ouvira sobre uma criança na Índia que tinha sido criada na selva por lobos. Mas havia algo de incoerente naquela história, como é que o miúdo falava francês e como é que um leão e uma criança sobrevivem no deserto.

- Desculpa lá Jacob, mas se tu sempre tivesses vivido com leões não conseguirias falar francês. – Lançou Pierre, confrontando o menino do deserto.
O rapaz não mudou a expressão e disse-lhe com toda a naturalidade:
-Os meus pais ensinaram-me a falar francês e outras línguas que acharam ser úteis.
-Tas a gozar comigo? Os leões não falam, como é que podem saber línguas?
-Não falam como falam os humanos mas têm outra linguagem que os humanos não percebem Apesar de não conseguirem falar de forma compreensível aos humanos, percebem os humanos e são muito rápidos a aprender, tendo com o tempo aprendido várias línguas só por interesse e curiosidade.
Pierre não acreditou no rapaz, achou que este ou lhe estava a mentir ou estava a gozar com ele. Por outro lado a naturalidade com que ele falou pareceu ser totalmente sincera e Pierre que achava que tinha o dom de detectar a falsidade na expressão das pessoas, nunca se tendo enganado, começava a duvidar da sua capacidade. Resolveu então desistir da conversa e mudar de assunto.
-Tas com fome?
-Sim, o Tera não chegou a ir caçar.
-Então vou preparar alguma coisa para nós.
Felizmente quando chegou à cozinha reparou que a cozinheira tinha deixado o almoço já feito, pairava no ar um aroma a especiarias, carne de aves e amendoim que lhe abriu o apetite. Espreitou as panelas e ficou deliciado com o aspecto da comida que ainda estava quente. Uma das panelas tinha um frango desossado com molho de amendoim, algo que nunca tinha visto mas que lhe pareceu apetitoso, a outra panela continha um arroz de especiarias com um aroma incrivelmente hipnotizaste e inédito. Serviu dois pratos e trouxe um para si e outro para o rapaz que se agarrou à comida e pôs-se a comer à mão a uma velocidade desesperante. Pierre comeu o seu prato tranquilamente, saboreando cada garfada daquela comida exótica que nunca tinha experimentado e que começava a gostar. Acabou e sentou-se numa poltrona a ler enquanto Jacob foi para ao pé do seu irmão Tera.
Passadas umas horas começou a ouvir um burburinho que vinha lá de fora. Levantou-se e olhou pela janela onde viu à frente do portão da sua propriedade umas centenas de indígenas revoltados a gritar, a rezar e a fazerem rituais compostos por danças e batucadas. Ganhou coragem e foi até lá.

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Friday, November 23, 2007

 

A paz esquecida (parteVI)

Pierre estava cheio de vontade de contar tudo ao miúdo, pedir-lhe desculpa e recompensá-lo pelo mal que lhe fez a ele e ao bicho. Não foi capaz de lhe dizer a verdade mas resolveu que o iria recompensar e dar-lhe tudo o que pudesse.
-Como é que te chamas?
-Jacob - Disse o miúdo – e tu?
-chamo-me Pierre, porque é que há bocado disseste que o leão era teu irmão?
-Porque é senhor.
-Sabes o que é que as pessoas dizem sobre ti?
-Não senhor, até hoje só conhecia o meu irmão Tera, o meu pai, a minha mãe e os meus outros irmãos, as outras pessoas sempre que me vêem escondem-se.
-As pessoas acham que tu és um fantasma mau do deserto e que amaldicoas as suas vidas.
Jacob desatou-se a rir e disse:
- As pessoas são muito estranhas, as coisas que inventam e a maneira como sofrem com elas é ao mesmo tempo cómico e triste.
-Diz-me uma coisa, onde é que tu vives, onde é que está a tua família?
-Eu vivo pelo deserto, onde calhar, mas tem sido aqui por esta zona que temos vivido, eu e o Tera gostamos de passear, então nunca estamos no mesmo sítio, a minha família creio que está onde eu e o meu irmão a deixámos, mais para sul onde há arvores e verde.
-Tu não vives com a tua família? Vives só com o leão? – Perguntou Pierre espantado com o que estava a ouvir.
- Sim desde que temos doze anos, altura em que entramos na vida adulta e devemos experimentar viver sozinhos. Ao contrário do resto dos leões, eu e o Tera resolvemos ir para norte e explorar esta zona de deserto nunca antes habitada por leões e acabámos por nos ambientar, o silêncio do deserto é um fenómeno da natureza que não trocaríamos por nada. Não há sensação melhor do que deitar na areia à noite a contemplar as estrelas e mergulhar na paz deste silêncio.
- Tás-me a dizer que o teu pai, a tua mãe e os teus irmãos são leões.
-Sim senhor e eu também, sou só de um tipo diferente, tu também és diferente de mim e podias ser meu pai ou meu irmão.
Pierre não podia acreditar no que ouvia, um miúdo que tinha sido criado por leões, fazia-lhe lembrar uma história que ouvira sobre uma criança na India que tinha sido criada na selva por lobos. Mas havia algo de estranho naquela história, como é que o miúdo falava francês e como é que um leão e uma criança sobrevivem no deserto.

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Thursday, November 22, 2007

 

A paz esquecida (parte V)

Puseram-se os três em cima do cavalo e dirigiram-se a casa do Dr. Pierre que tinha lá material médico para tratar o ferimento.

Atravessaram os três a civilização, o que aterrorizou a população local que de repente viram o menino que eles pensavam ser o espírito mau do deserto e o seu leão a atravessarem a sua aldeia montados num cavalo e conduzidos por um francês. Após a sua passagem gerou-se o caos e o medo pela população. Chegaram a casa de Pierre e foram recebidos pelos seus empregados a quem pediu ajuda mas que imediatamente fugiram aterrados ao verem o cenário. Entraram com o cavalo dentro da casa pois era a maneira mais fácil e rápida de meter o leão dentro de casa, deitaram-no no chão e Pierre foi buscar material para salvar a vida ao animal.
Pierre teve que ir ao centro hospitalar para onde em breve iria trabalhar, para ir buscar o que lhe faltava para acabar o curativo que estava a fazer no leão e foi então que lhe contaram a história que havia à volta do menino e do leão, o que ele achou ridículo e estranho . Chegou a casa e apanhou o menino a emitir uns roídos para o leão e este a responder-lhe, estranhou mas a situação já era toda ela tão surreal que ele já se começava a habituar ao insólito. Tratou o leão e deu-lhe um analgésico.
-Está fora de perigo, dei-lhe agora uma injecção para ele não ter dores
-Obrigado senhor, estou-lhe muito agradecido – disse o menino abraçando-se a Pierre.
O médico sentiu-se ao mesmo tempo constrangido, emocionado e com um peso na consciência enorme. Afastou-o, olhou para ele e perguntou-lhe:
-O que é que estavas a fazer com um leão, sozinho no deserto?
-Estava a dormir e ele estava a procura de comida para nós, até que acordei com um barulho muito forte e assustei-me, comecei a ouvir o Tera a ganir e fui atrás do som dele, foi então que o vi deitado a contorcer-se. Deve ter sido um animal muito mau e muito forte que lhe fez aquilo, o Tera é muito forte e nunca nenhum animal lhe fez mal.

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Wednesday, November 21, 2007

 

A paz esquecida (parte IV)

  Voltou a sentar-se na areia ainda desorientado consigo mesmo, quando começou a ouvir um som estranho que se vinha aproximando até se tornar nítido e perturbante como um choro, olhou para trás e viu um menino muito escuro, que não devia ter mais de dez anos, tão nu que se viam os ossos, era ele que chorava e num tom que se ouvia com a alma.

 Pierre levantou-se e o rapazinho assustou-se, perguntou-lhe em francês se estava tudo bem, esperando que o rapaz o compreendesse. Surpreendentemente este respondeu num francês tão correcto como o seu que o irmão estava a morrer. Pierre ficou aflito e pediu ao menino que lhe indicasse onde estava o seu irmão, pois ele era médico e talvez o pudesse ajudar. Correram os dois, aproximando-se cada vez mais do leão que levara com o tiro de Pierre. Primeiro pôs em hipótese que o rapaz se referisse ao leão como irmão, depois achou que era só coincidência, quando viu o menino abraçar-se ao leão e a gritar que o ajudasse por favor, Pierre primeiro ficou parvo a olhar para aquilo tudo e depois consciencializou-se que tinha que desfazer o erro e salvar o animal que era tão querido ao pobre rapazinho. Começou a agir com aquela eficiência que só a adrenalina possibilita, imediatamente despiu as roupas, atou umas às outras e enrolou à volta do leão por cima da zona da ferida de forma a estancar o sangue. Tentou levantar o leão do chão mas logo viu que era impossível, voltou a tentar com a ajuda do rapaz mas só conseguiram arrastá-lo dois metros.
-Eu vou a correr buscar algo para transportar o leão e já venho cá buscar-vos, entretanto vai pressionando a zona onde está a ferida Disse Pierre exaltado
-Chama-se Tera senhor, por favor despache-se.
-Sim não te preocupes – gritou Pierre já a correr.
Chegou à civilização completamente estafado de roupa interior, o que pôs tudo a olhar para ele, desatou aos gritos por um cavalo e as pessoas ficaram espantadas a olhar para ele em vez de o ajudarem. Lá encontrou um cavalo, montou nele e seguiu sem se importar se o dono deixaria, quando montou, o dono tentou pará-lo, pondo-se à frente aos gritos, como não havia tempo para explicações, Pierre desviou-se e meteu-se deserto a dentro. Chegou ao pé do menino que estava abraçado a volta do leão a estancar a ferida, enquanto este lhe dava lambidelas como quem diz "não te preocupes vai correr tudo bem". Numa situação normal, levantar uma criatura de 160 quilos para o meter em cima do cavalo seria impossível, mas o instinto protector era tanto que até lhes pareceu fácil. Puseram-se os três no cavalo e dirigiram-se a casa do Dr. Pierre que tinha lá material médico para tratar o ferimento.

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Tuesday, November 20, 2007

 

A paz esquecida (parte III)

Adormeceu como um bebé só adormece no colo da sua mãe e acordou passado poucas horas devido ao calor. Quando abriu os olhos não acreditou que já estivesse acordado, á sua frente estava um leão, tinha a certeza, já tinha visto em filmes, aquilo era um leão em pleno deserto.

Ficou impressionado com a posse altiva do animal e sua elegância de felino respeitável, sentiu uma certa admiração pelo leão mas por outro lado o seu instinto de caçador levou-o a disparar sobre ele. O estrondo da bala assustou-o como nunca tinha assustado e ver o animal a sofrer fê-lo arrepender-se. O Leão não estava morto mas Pierre também não era capaz de disparar outra vez sobre o animal para acabar com o seu sofrimento, em vez disso ficou a olhar entorpecido para o que tinha acabado de fazer durante uns minutos e foi-se embora sem conseguir pensar lucidamente no que tinha feito. O que para ele dantes seria um triunfo agora estava-lhe a pesar. Voltou a sentar-se na areia ainda desorientado consigo mesmo até começar a ouvir um som estranho que se vinha aproximando até se tornar nítido e perturbante como um choro, olhou para trás e viu um menino muito escuro, que não devia ter mais de dez anos, tão nu que se viam os ossos, era ele que chorava e num tom que se ouvia com a alma.

Monday, November 19, 2007

 

A paz esquecida (parte II)

Quando lhe contaram esta história, Jacob desatou-se a rir dizendo que as pessoas são muito estranhas
- as coisas que as pessoas inventam e a maneira como sofrem com elas é ao mesmo tempo cómico e triste - disse Jacob a Pierre que ainda estava incrédulo com aquilo tudo

Pierre chegara á região de Tombuktu no dia anterior a conhecer Jacob, vinha de Paris sua terra natal, donde saturara da vida citadina, dos acontecimentos sociais de pompa que a seu ver eram uma pura celebração da hipocrisia vigente, onde os trajes e as cabeleiras ridículas eram máscara para esconder a sujidade da alma dos seres que as vestiam. Havia se formado em medicina e recentemente começara a procurar lugar num hospital em uma colónia qualquer francesa, de preferência num sítio que tivesse uma fauna abundante, uma vez que uma das suas paixões era caçar. Lá conseguiu um lugar razoável numa terra do Sudão francês devido á influência do seu pai e assim que arranjou meios, arrancou para o desconhecido por que tanto ansiava. Quando chegou foi recebido com uma festa organizada pela comunidade francesa local que o fez voltar á realidade de que ele tinha fugido. Decidiu então escapar-se outra vez e foi deitar-se cedo para no dia seguinte ir caçar. Disseram-lhe que estava com azar porque naquela zona não havia muita fauna mas que no fim-de-semana faziam expedições de caça numa zona longe dali. Não estava convencido, para ele Africa era como sempre ouvira falar, cheia de animais exóticos por todo o lado e achava que os seus conterrâneos estavam só a tentar convence-lo a ficar mais tempo na festa de recepção. Saiu então cedo á busca de animais selvagens mas foi deserto que encontrou, continuou esperançoso de encontrar um animal com que se pudesse defrontar mas deu por si mais entusiasmado com o nascer do sol que se levantava por trás das dunas e o ia aquecendo. Resolveu-se sentar na areia a contemplar aquele momento inédito que lhe deu uma sensação de alívio e bem-estar que os luxos todos que a sua vida de nobre francês lhe permitiam nunca lhe conseguiram dar. Adormeceu como um bebé só adormece no colo da sua mãe e acordou passado poucas horas devido ao calor. Quando abriu os olhos não acreditou que já estivesse acordado, á sua frente estava um leão, tinha a certeza, já tinha visto em filmes, aquilo era um leão em pleno deserto.

Thursday, November 15, 2007

 

A paz esquecida (parte I)

Tombuctu, a região mais a norte do Mali, para além de ser conhecida pelas suas vastas planícies desertas, é também conhecida pela sua capital de mesmo nome, uma mística cidade, que nos seus tempos mais prósperos se dizia ser de difícil acesso e ter estradas pavimentadas a ouro, edifícios com telhados de ouro e por ser um lugar de conhecimento e tolerância religiosa e intercultural. Igualmente mística é a história do rapazinho fantasma que vagueava montado num leão pelos desertos de Tombuctu. No norte do Mali não há leões, nem havia no tempo em que a zona pertencia ao Sudão Francês, altura em que se passa esta história, o que torna esta situação ainda mais misteriosa. Por outro lado também não é normal que um rapazinho com menos de dez anos passeie pelo deserto montado num leão, o que levou as populações das aldeias próximas da área onde esta dupla costumava ser vista, a concluírem que só podia ser um espírito ou um fantasma do mal, pelo que sempre que viam a figura fugiam e escondiam-se nas suas casa feitas de lama a rezar. Até os destemidos Tuaregues temiam estas duas criaturas, nomeando o rapazinho de filho demoníaco do deserto. A ideia de um fantasma pode ser assustadora mas torna-se ainda mais inquietante quando é infantilizada, é perturbadora a imagem de uma criança infeliz que vive no reino dos espectros.
Desde que tinham começado a ter aparições deste dois espíritos enigmáticos que as populações vizinhas andavam amedrontadas e desorientadas, até atribuíram a culpa da falta de chuvas ao menino mau do deserto. Este mau estar geral gerou uma série de conflitos que os levou a achar que o espírito amaldiçoara aquela região. Há uma certa tendência para achar que os Africanos dramatizam demasiado a realidade, arranjando explicações místicas e sobrenaturais para todos os fenómenos e tendo crenças surreais e obscuras. Mas será que é assim ou será que os africanos por estarem há mais tempo na terra atingiram um nível de percepção mais elevado que o nosso, vendo coisas que nós não percepcionamos; ou então neste continente passam-se coisas realmente paranormais, temos que admitir que não é normal haver um leão no deserto que vive com um menino e porém é verdade que existiu.
Quando lhe contaram esta história, Jacob desatou-se a rir dizendo que as pessoas são muito estranhas.
- As coisas que as pessoas inventam e a maneira como sofrem com elas é ao mesmo tempo cómico e triste – disse Jacob a Pierre que ainda estava incrédulo com aquilo tudo.

Thursday, November 08, 2007

 

ser

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"


ass: Um grande senhor

Monday, November 05, 2007

 

à noite...

de manhã será luminosa e bonita. à tarde, mistica e confusa. mas à noite... lisboa tem algo de mágico à noite. avenida da liberdade vazia, seres deambulam aparentemente sem destino...
- onde é a discoteca açores ?
- discoteca ? há a pensão, ali na esquina entre a rua da conceição e a rua do ouro. mas já deve estar fechada !
cheira a boémia decadente, típica de cidade portuária. cheira a putas e a tabaco estrangeiro. é domingo... é domingo e eu estou cansado.
amanhã de manhã será luminosa e bonita...

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