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Saturday, November 24, 2007

 

A paz esquecida (parte VII)

Pierre não podia acreditar no que ouvia, um miúdo que tinha sido criado por leões, fazia-lhe lembrar uma história que ouvira sobre uma criança na Índia que tinha sido criada na selva por lobos. Mas havia algo de incoerente naquela história, como é que o miúdo falava francês e como é que um leão e uma criança sobrevivem no deserto.

- Desculpa lá Jacob, mas se tu sempre tivesses vivido com leões não conseguirias falar francês. – Lançou Pierre, confrontando o menino do deserto.
O rapaz não mudou a expressão e disse-lhe com toda a naturalidade:
-Os meus pais ensinaram-me a falar francês e outras línguas que acharam ser úteis.
-Tas a gozar comigo? Os leões não falam, como é que podem saber línguas?
-Não falam como falam os humanos mas têm outra linguagem que os humanos não percebem Apesar de não conseguirem falar de forma compreensível aos humanos, percebem os humanos e são muito rápidos a aprender, tendo com o tempo aprendido várias línguas só por interesse e curiosidade.
Pierre não acreditou no rapaz, achou que este ou lhe estava a mentir ou estava a gozar com ele. Por outro lado a naturalidade com que ele falou pareceu ser totalmente sincera e Pierre que achava que tinha o dom de detectar a falsidade na expressão das pessoas, nunca se tendo enganado, começava a duvidar da sua capacidade. Resolveu então desistir da conversa e mudar de assunto.
-Tas com fome?
-Sim, o Tera não chegou a ir caçar.
-Então vou preparar alguma coisa para nós.
Felizmente quando chegou à cozinha reparou que a cozinheira tinha deixado o almoço já feito, pairava no ar um aroma a especiarias, carne de aves e amendoim que lhe abriu o apetite. Espreitou as panelas e ficou deliciado com o aspecto da comida que ainda estava quente. Uma das panelas tinha um frango desossado com molho de amendoim, algo que nunca tinha visto mas que lhe pareceu apetitoso, a outra panela continha um arroz de especiarias com um aroma incrivelmente hipnotizaste e inédito. Serviu dois pratos e trouxe um para si e outro para o rapaz que se agarrou à comida e pôs-se a comer à mão a uma velocidade desesperante. Pierre comeu o seu prato tranquilamente, saboreando cada garfada daquela comida exótica que nunca tinha experimentado e que começava a gostar. Acabou e sentou-se numa poltrona a ler enquanto Jacob foi para ao pé do seu irmão Tera.
Passadas umas horas começou a ouvir um burburinho que vinha lá de fora. Levantou-se e olhou pela janela onde viu à frente do portão da sua propriedade umas centenas de indígenas revoltados a gritar, a rezar e a fazerem rituais compostos por danças e batucadas. Ganhou coragem e foi até lá.

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