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Wednesday, November 21, 2007

 

A paz esquecida (parte IV)

  Voltou a sentar-se na areia ainda desorientado consigo mesmo, quando começou a ouvir um som estranho que se vinha aproximando até se tornar nítido e perturbante como um choro, olhou para trás e viu um menino muito escuro, que não devia ter mais de dez anos, tão nu que se viam os ossos, era ele que chorava e num tom que se ouvia com a alma.

 Pierre levantou-se e o rapazinho assustou-se, perguntou-lhe em francês se estava tudo bem, esperando que o rapaz o compreendesse. Surpreendentemente este respondeu num francês tão correcto como o seu que o irmão estava a morrer. Pierre ficou aflito e pediu ao menino que lhe indicasse onde estava o seu irmão, pois ele era médico e talvez o pudesse ajudar. Correram os dois, aproximando-se cada vez mais do leão que levara com o tiro de Pierre. Primeiro pôs em hipótese que o rapaz se referisse ao leão como irmão, depois achou que era só coincidência, quando viu o menino abraçar-se ao leão e a gritar que o ajudasse por favor, Pierre primeiro ficou parvo a olhar para aquilo tudo e depois consciencializou-se que tinha que desfazer o erro e salvar o animal que era tão querido ao pobre rapazinho. Começou a agir com aquela eficiência que só a adrenalina possibilita, imediatamente despiu as roupas, atou umas às outras e enrolou à volta do leão por cima da zona da ferida de forma a estancar o sangue. Tentou levantar o leão do chão mas logo viu que era impossível, voltou a tentar com a ajuda do rapaz mas só conseguiram arrastá-lo dois metros.
-Eu vou a correr buscar algo para transportar o leão e já venho cá buscar-vos, entretanto vai pressionando a zona onde está a ferida Disse Pierre exaltado
-Chama-se Tera senhor, por favor despache-se.
-Sim não te preocupes – gritou Pierre já a correr.
Chegou à civilização completamente estafado de roupa interior, o que pôs tudo a olhar para ele, desatou aos gritos por um cavalo e as pessoas ficaram espantadas a olhar para ele em vez de o ajudarem. Lá encontrou um cavalo, montou nele e seguiu sem se importar se o dono deixaria, quando montou, o dono tentou pará-lo, pondo-se à frente aos gritos, como não havia tempo para explicações, Pierre desviou-se e meteu-se deserto a dentro. Chegou ao pé do menino que estava abraçado a volta do leão a estancar a ferida, enquanto este lhe dava lambidelas como quem diz "não te preocupes vai correr tudo bem". Numa situação normal, levantar uma criatura de 160 quilos para o meter em cima do cavalo seria impossível, mas o instinto protector era tanto que até lhes pareceu fácil. Puseram-se os três no cavalo e dirigiram-se a casa do Dr. Pierre que tinha lá material médico para tratar o ferimento.

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