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Friday, September 12, 2008

 

Guiné e os seus frutos

A Guiné-Bissau é um país com uma riqueza natural enorme e uma pobreza social e económica que lhe é proporcional. É um dos países mais pobres do mundo mas a fome não é o seu maior problema, creio que a razão de ser deste fenómeno está na sua riqueza natural, e não é só na fauna e na flora, que são generosas, os seres humanos também o são, nunca deixando o vizinho, o amigo ou o familiar passar fome.
Sabe-se que os primeiros seres humanos são originários de África, não sei exactamente de que parte do continente mas não me chocaria que daqui fosse.



O Verde Brota

A maneira como tudo brota neste ponto verde do mundo, a fertilidade desta terra, dá-me a sensação de que aqui estão reunidas as condições para nascer a humanidade.
Aqui a terra e o clima falam connosco e recordam-nos a todo o instante que existem. Apercebemo-nos disso assim que saímos do avião, sobre nós apodera-se um calor e uma humidade sufocantes, em poucos segundos estamos afogados em suor e a roupa cola-se a nós. Ainda meio estonteados com o calor somos forçados a preencher uns papeis que demoramos a compreender, esperamos pelas nossas malas no pequeno aeroporto de Bissau e voltamos para a luminosidade ofuscante do dia.



À nossa volta, se excluirmos as pessoas, as estradas e os carros, só vemos verde e o vermelho da terra e dos formigueiros de proporções surreais, mas este verde não foi plantado, é um verde que se aglomera, que cresce e se reproduz precocemente, desorganizadamente e abundantemente.




A Humanidade também brota

Fotografia tirada por Margarida Madureira

Quando estou á conversa com um guineense e nos estamos a conhecer, ao dizer que tenho 23 anos é normal surgir a pergunta:
"quantos filhos tens?"
“Nenhum” respondo eu.
O outro fica espantado a olhar para mim e para manter a conversa, pergunto-lhe o mesmo, ao que ele responde:
“Tenho 4 filhos”
“E que idade tens?”
“21”
No outro dia numa aula, eu e a minha colega resolvemos lançar um debate sobre os cuidados a ter com as crianças e que falhas existiam a este nível na Guiné. O excesso de filhos e a falta de condições para os criar foram apontados. Nesta conversa perguntaram-me a mim e à minha colega quantos irmãos tínhamos. “Um” respondi eu, “nenhum” respondeu a minha colega. Algumas das nossas formandas ficaram espantadas mas outras explicaram-lhes que os brancos são mesmo assim. Uma delas, a Nicolácia explicou que aqui na Guiné, ter muitos filhos é sinal de riqueza, mesmo que não haja dinheiro para os sustentar. Não ter filhos a partir dos 21 é mal visto, aos 30 é inaceitável. O seu avô teve 43 filhos de 18 mulheres e ela tem 15 irmãos.
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Tudo Brota

Mas não é só nas pessoas que esta abundância de descendência e esta pressa de reproduzir acontece, na natureza dá-se o mesmo (um balde de água em poucas horas é um lago de girinos), o que nos leva a pensar que o fenómeno não é só cultural.
Como já referi, a natureza aqui expressa-se, se não é no calor é na chuva, que nesta altura do ano é quase diária, em poucos segundos estamos ensopados e alguns minutos são suficientes para criar riachos e correntes fortes nas estradas e nos passeios. Nas noites de tempestade, a chuva e o seu acelerar galopante dão-nos a sensação de que o fim do mundo se aproxima para depois renascer limpo e fresco na manhã seguinte. Quando a tempestade é acompanhada de relâmpagos e trovoada, é impossível ficar indiferente. É um espectáculo de estrondo e luz capaz de acelerar o coração mais calmo. Depois da trovoada passar por nós, se tivermos a possibilidade de ver o horizonte para onde esta se mudou, temos o privilégio de assistir a uma coreografia de relâmpagos impressionante.
Nas noites calmas quando me deito, abro a janela para não sufocar neste calor húmido e adormeço a ouvir a fauna nocturna que se exprime com ritmo e melodia harmonioso. Durante o dia o espectáculo é sobretudo visual, a flora é abundante e entre o verde, nos seus diferentes tons, somos surpreendidos por pinceladas de laranja, amarelo e vermelho. Entre as palmeiras, os coqueiros, as mangueiras e os excessivos cajueiros, há uma árvore que se destaca: O Poilão, a arvore sagrada. Este monumento da natureza é um verdadeiro templo milenar para as religiões animistas da Guiné Bissau. Por entre todas estas árvores passeiam-se aves de cores variadíssimas, azul índigo, verde esmeralda, encarnado forte e borboletas de cores incontáveis. Na terra passeiam-se repteis tricolores que fazem movimentos semelhantes a flexões, lagartos gigantes com um gingar jurássico e minhocas pretas e amarelas com movimentos ondulantes.
Ao entardecer quando o sol se pensa em ir deitar, o céu ganha tons rosa e azul mas de uma luminosidade que me parece mais clara e límpida que no hemisfério de cima. É nesta altura que a fauna se começa a fazer ouvir, grilos, sapos e outros bichos que só reconheço pelo som iniciam o seu cantar monótono e é também nesta altura que as libelinhas invadem o céu até o sol cair.

Comments:
Chorei de novo. Tenho tantas saudades tuas, Tinga... Tu, que (re)conheci como Humano, vejo nas tuas letras todos os seus derivados: Humanismo, Humanista, Humanidade, Humathurman (hihihi) (,= verdade seja dita, exteriorizaste o teu coração, reflectido no cenário que nos pintas. Obrigado.
*3õ*
 
adorei este teu texto tiago! tou como o rosas... tá lindo! por acaso a minha mãe tb me tinha contado coisas nesta linha sobre guiné-bissau e até s. tomé, mas tu fizeste-me aprender mais, e com um texto bonito e simples.
continua a humanizar à volta, humanizando-te a ti também!
joão
 
Obrigado pelas palavras de carinho amigos, também tou com saudades vossas
 
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