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Tuesday, September 23, 2008

 

Avion di Tchon

Já tinha lido que a melhor maneira de conhecer África e as suas gentes é a bordo de um transporte público num país africano, porém nunca tinha passado pela experiência. Nas últimas semanas tem sido o meu meio de deslocação e posso comprovar que estas caixas ambulantes são verdadeiras estufas de interculturalidade, a proximidade que temos com as pessoas que seguem o mesmo caminho que nós é sobretudo de nível físico e talvez por isso nos seja possível uma maior aproximação a nível pessoal. Apesar de ser claro para o Africano que o branco é diferente e que tem dinheiro, vê-lo no transporte do povo dá-lhe a sensação de que estão no mesmo nível (Ainda existem traumas gravíssimos do tempo do colonialismo, causando complexos de inferioridade e falta de auto-estima em algumas das suas vitimas), o que o deixa mais à vontade e curioso de conhecer esta personagem indefinida. (Desde que estou na Guiné, só vi um branco num transporte público, os brancos aqui andam de jipes de luxo e poucos frequentam os mesmos locais que os guineenses). Para além do táxi que aqui pode ser partilhado por pessoas com diferentes destinos, existem 4 tipos de veículos públicos essenciais na Guiné-Bissau: O Toca-toca, a Candonga e a sete-platz

O TOCA - TOCA -Meio de transporte urbano






É uma mini-van amarela e azul com o nome do bairro para onde se destina inscrito na chapa. Alguns têm janelas e outros nem por isso, pelo que os seus donos improvisaram-nas, cortando circunfrências ao longo da chapa, dando ao veículo um certo aspecto de de submarino do asfalto. Penso que praticamente todos os Toca-tocas estão decorados com autocolantes idênticos - Madona dos anos 80, Bob marley, as palavras City Boy ou Turbo escritas com letras fluorescentes e raios e fogo em cores fortes. O interior desta carrinha contém dois bancos corridos e um banco individual na ponta e 12 pessoas aqui vão apertadinhas, mas não é improvável irmos 30 num Toca-toca.

Foi num Toca-toca que conheci o Fernando Mendes, numa das nossas primeiras incursões nocturnas à Bissau desilumindada, ele perguntou-nos se eramos portugueses, quais eram nossos nomes e sorrindo orgulhosamente apresentou-se:

-O meu nome é Fernando Mendes como o apresentador de Televisão
-Mas não és assim muito parecido - Disse eu em tom de brincadeira

-Pois não, senão não cabia neste Toca-toca - disse ele mandando uma gargalhadade de sonoridade africana que seguidamente foi acompanhada por um vibrante coro, abafando as nossas timidas risadas europeias. De facto o F.Mendes guineense não era de todo parecido com o nosso, era magro, alto, aparentava uma certa idade e no topo da cabeça tinha um gorro típico da etnia Balanta, semelhante ao que usava Amilcar Cabral. Explicou-nos que tinha nome português pois esse era um dos requisitos do regime colonial para guineenses que quisessem estudar. Disse-lhe que iria estar dois meses em Bissau e ele disse que não era tempo sufíciente para conhecer a cultura deste país e as suas dezenas de etnias, vou-me apercebendo que ele tinha razão.


A CANDONGA


Este veículo não é muito diferente do Toca-toca e ainda não percebi a diferença entre este e o canter, penso que está no tamanho ( o canter é maior). O que distingue a Candonga do Toca-toca, para além da cor é o facto desta fazer longas distâncias. Para se apanhar uma Candonga em Bissau, tem que se ir à Paragem Central, que é um descampado circundado por barraquinhas de comércio, onde convivem várias pessoas e vários veículos. O chão é de lama e lixo e o acesso é de terra batida esburacada, o que significa que da paragem até chegarmos à estrada principal ainda vamos ser abanados durante muito tempo. Mal chegamos somos interpelados agressivamente por vários homens que gritam os destinos dos seus carros. Quando dizemos para onde queremos ir, somos disputados com desespero pelos detentores do nosso destino. Ao chegarmos à Candonga começamos a perceber o porquê de tanto desespero, a candonga só parte quando estiver cheia e o estar cheio, aqui, significa a rebentar pelas costuras.

A espera mais desesperante por que passei na Paragem Central aconteceu quando me dirigia para Saltinho. Esta terra de paisagem idílica e paradisíaca tem um acesso que não está longe daquilo que é a minha concepção de inferno. Chegámos à paragem às 11 da manhã e já estavam duas pessoas na Candonga, o calor apertava, mas iria apertar muito mais nas três horas seguintes. Nesse dia amanheci particularmente enjoado e o odor a escape e lixo, misturado com o cheiro a suor e caldo de galinha que alguém a certa altura trouxe para a carrinha não estavam a ajudar. Olhei à minha volta, a Candonga estava só meio cheia, havia passado uma hora, lá fora os candongueiros executavam uma série de complicadíssimas manobras para pôr tralha no tejadilho. Na rádio estava a dar o posto da Igreja Universal do Reino de Deus onde um sujeito, de pronúncia brasileira , falava com o seu Deus num tom desesperado e angustiante, o enjoo piorara, perguntei ao miúdo candongueiro se eu podia mudar o posto, ele consentiu e assim o fiz aliviado. Passadas duas horas de espera lá arrancámos e depois de três horas de desconforto e costas tortas numa lata de sardinha chegámos a Saltinho inteiros.







Voltar de Saltinho para Bissau também não foi fácil, mas foi bem mais divertido. Depois de esperar umas horas que passasse uma Candonga (mas desta vez num sítio bonito) lá chegou uma. Ficámos aliviados, mas logo de seguida nos apercebemos de estava cheia. Quando pensávamos em desistir, os Candongueiros começaram-nos a indicar os nossos insólitos lugares: Um deles era à frente num banco sem encosto, o outro era de pé, outro (o melhor) era sentado comprimido entre duas ancas de fêmea africana. O meu lugar seria atrás, na parte de fora da Candonga, com os pés em cima do pára-choques e as mãos agarradas à armação do tejadilho. Juntamente comigo vinham dois simpáticos candongueiros a quem perguntei se íamos o caminho todos assim, ao que eles riram e responderam que não. Passados 15 minutos pendurado à conversa com os cadongueiros lá parámos para deixar pessoas numa tabanka e eu pude entrar no porta bagagens juntamente com a minha colega que vinha de pé, que entretanto vinha com uma senhora a dormir abraçada à sua anca e com a cabeça encostada ao seu sovaco. Aos meus pés vinham 12 galinhas que de vez em quando reclamavam.
Viagens como estas valem a pena, não pelo conforto, não só pelo destino mas principalmente pelo percurso que é uma verdadeira odisseia de interculturalidade.

A SETE-PLATZ


A Sete-Platz é uma carrinha Pegeout 307 antiga que como o próprio nome indica, tem capacidade para 7 pessoas e de facto não saem de Bissau com mais indivíduos, devido ao controlo policial. Mas o mesmo não se passa de Gabú para Pirada, neste percurso viemos 11 numa Sete-Platz e foi uma viagem alucinante em terra batida esburacada, um verdadeiro rally onde o destemido condutor não abrandou perante os buracos impossíveis que apareciam. No caminho fomos mandados parar por um ancião, que se mandou a sí e à sua bicicleta para o tejadilho. A certa altura parámos numa tabanka, o condutor trocou dois dedos de conversa com um dos habitantes e seguiu viagem. Não percebemos a razão de ser desta paragem até que a certa altura uma mulher grita umas palavras em Fula (língua da Etnia predominante desta zona) e desata-se a rir acompanhada por todos os perceberam a piada (tinham-se esquecido de deixar um ancião na sua tabanka).
Em Pirada apanhámos outra Sete-Platz até ao Senegal, cuja fronteira fica a uns minutos do sítio onde estávamos. Á chegada fomos obrigados pelos militares que controlavam a fronteira a lavar as mãos em dois baldes, calculamos que seja devido aos surtos de Cólera que estão a haver em Bissau. A paisagem de Wassadu, a primeira aldeia do Senegal, depois da fronteira com a Guiné Bissau é muito parecida com Pirada, as pessoas e as construções são muito semelhantes, só muda a língua.


Voltámos de Pirada num Canter e no caminho passámos por um camião caído na berma da estrada de terra batida que provavelmente ali vai ficar, vai começar a apodrecer, a crescer vegetação no tejadilho e o motor certamente será esvaziado. Nesta viagem conheci o Serifo, que vinha da sua Tabanka Nova Iorque. Este guineense vive em Portugal, veio à sua Tabanka arranjar uma mulher para fazer o favor a mãe. Falámos das diferenças entre Portugal e Guiné, referi os meios de transporte como algo inédito, ao que ele respondeu:

-São assim os nossos avion de Tchon (avião do chão), neles tudo é possível.


Comments:
Meu caro, não consegui parar de rir com o teu post ! Relembra-me os posts que lia do meu primo aquando da sua estada em Luanda (era remédio santo para um dia meio depressivo). Por outro lado (analiticamente), leio-te cada vez melhor, que é como quem diz que escreves cada vez melhor e é lindo !
Tenho (temos todos) umas saudades tuas que não imaginas... Quero ouvir-te. Quero sentir cheiros, sabores, sons, visões no teu verbo como tenho sentido na tua escrita !

ATÉ JÁ nha joe !! (,:
 
buraco sim buraco não glup mais buraco chiii curva marada aiaiai que quase morro deus é garandi hii para para na bim genti li buracão agora ai galinha nos pés ai porco no tejadilho ai encostada a uma grande badjuda hi rabada garandi encostada a mim ai buraco buracooooo uff paragem está quase humm essa traz panela com caldo di chebeu chii chegamos quasi quasi para para li uff salta badjuda. chegámos.ahhh.saudades desse avion.s
 
Sarini i bu ki sta fasi comentario desse tipo?tipo gigi, i kuma? ami sta bom, bjs
 
n' ca comprendi significadu di "tipo gigi" bo cerebro sta mistura dialectus? hi!manga di calor nesse chon la.ami sara-ini certo.bj mantegnas p tudus gentis.
 
n' ka sta fasi mistura di dialectu, gigi i guineense
 
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