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Friday, February 03, 2006

 

O afrodi-vinal molho de Dona Mena

Dona Mena faz o melhor molho agridoce que já provei, é absolutamente divinal e inexplicavelmente agradável aos sentidos. É impressionante como o doce e o amargo estão neste molho, tão bem equilibrados, tanto a nível aromático como a nível de paladar. Sentimos doce quando precisamos de doçura e amargo quando a doçura está quase a enjoar. O aroma que sai desta obra-prima culinária faz nos crescer água na boca e deixa-nos loucos de desejo para experimentar esse néctar divino. Depois de experimentar, o sabor que fica na boca e a memória desse sabor deixa-nos semanas com vontade de voltar a ter um encontro com tal luxo para os sentidos.
O molho de Dona Mena também tem o seu toque de picante, proveniente de uma malagueta africana, ligeiramente forte e muito aromática. O poder deste componente misturado com a frescura de sabor de outras especiarias presentes neste molho, deixa-nos o corpo a arder e a refrescar ao mesmo tempo. Outra das qualidades deste molho é a sua textura, tão suave e tão aliciante, que flúi como um rio próspero e puro em tempos de abundância.
Conheci Dona Mena o ano passado, ela veio-me cumprimentar dizendo que era a nova vizinha e que se eu precisasse de alguma coisa, era só tocar no 3ºA, que ela se pudesse ajudava. Este gesto de simpatia foi verdadeiramente contagiante, respondi-lhe que ela podia esperar o mesmo de mim e sugeri que fossemos tomar um café para eu lhe explicar como funcionava o prédio, o que é que ela tinha que saber, e para nos conhecer-mos melhor, já que daí em diante seríamos vizinhos. Ela gostou da ideia, a julgar pelo sorriso com que respondeu. Pude logo apreciar que Dona Mena era uma mulher divertida e interessante, com os seus conservados e maturos 33 anos, sua postura de mulher mulata de alto nível, sua doce e melódica pronuncia angolana e sua capacidade de deixar qualquer pessoa á vontade, através do humor e doçura nas atitudes. Para além de agradável no trato, esta senhora também é muito atraente e sensual. Tem os olhos de um castanho muito claro, doces, brilhantes e experientes. Sua pele é cor de chocolate de leite e é macia como mel. O seu corpo é composto por curvas grandes e atrevidas mas no entanto suaves, suas ancas e traseiro majestosos mostram bem o poder e sensualidade da feminilidade africana.
Nesta conversa que tivemos, ela falou-me que era cozinheira entre outras coisas, Explicou-me que era descendente de uma das rainhas do Congo. Sua mãe, filha de uma rainha de um reino africano apaixonou-se por um colonizador belga. Viveram juntos em Africa um feliz e imperturbável amor, passaram a viver na mesma casa e tiveram uma menina (dona Mena). Entretanto a sua paz foi perturbada quando, o Colonizador Belga foi destacado para trabalhar numa embaixada em Lisboa. Mas a mãe de Dona Mena não viu este percalço como um travão á sua felicidade, mas antes como um pretexto para conhecer o misterioso mundo ocidental que até á data só conhecia dos livros e do que ouvia falar. O companheiro belga desaconselhou-a de todas as maneiras possíveis, mas esta tanto insistiu que conseguiu. Em Portugal, a nossa rainha africana não se sentiu rainha como seria de esperar, sentiu-se desenquadrada, ao mesmo tempo maravilhada e assustada. A verdade é que esse sonho de conhecer o ocidente, cedo se tornou um pesadelo. O belga trocou-a por uma mulher branca e ela quase que ficou na miséria. Ficou sozinha, com uma filha para criar e algum dinheiro que o seu belgazito deixara. Com esse dinheiro investiu numa loja de produtos africanos da qual sobreviveu até ao fim da sua vida.
Foi assim, como que por brincadeira do destino que este atirou Dona Mena para a mesa de café onde eu estava e para a mesma conversa em que eu estava. Nesta conversa demonstrei-lhe o meu interesse pela cultura africana e por sabores fortes, quentes e aromáticos. Seus olhos brilharam e revelou-me que fazia um molho agridoce especial e delicioso, tradição das mulheres da sua família para agradar os homens. Sugeriu-me que aparecesse em sua casa para provar e assim fiz. Fiquei tão encantado que comecei a ir a casa de Dona Mena com frequência molhar o bico nesse néctar tão divinal e tão único. Foi assim que se criou esta saudável relação de prazer e amizade que me lava o espírito e aquece a alma sempre que preciso

Comments:
Great!!
Abracos
Nuno Lobito
 
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